quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Melancolia do coração

Passeava-se lentamente pela calçada ainda humedecida da chuva que caíra pouco antes.
Do seu lado direito, as árvores reflectiam-se na limpidez da água do rio que corria a uma velocidade tranquila.
O sol aparecera como por magia, e as nuvens haviam fugido como que amedrontadas pela majestosa estrela do Sistema Solar.
No entanto, no seu pensamento as ideias não corriam tão tranquilas, ou talvez não tão belas como a paisagem da qual se rodeava.
Fixou um pequeno pássaro que debicava grãos de areia, sem grande sucesso na obtenção de alimento.
Pensou que por vezes, a vida era mesmo assim, procurávamos, acreditávamos, e deixávamo-nos iludir por grãos de areia, que no fim nos deixariam à fome. Aliás, um amontoado deles que sedimentaria e originaria mais pedregulhos em ingénuos corações.
Na sua melancolia afectada pelo cansaço da mente, perguntou-se interiormente a razão de tantas quedas estupidamente dadas e a causa para todas as desprezíveis mágoas aguentadas.
Não encontrou qualquer resposta minimamente plausível para tal pergunta internamente despontada.
Deixou-se assim, no meio de tantas questões incompreendidas, ficar sentada num verde banco de jardim enquanto a brisa ressoava nos seus ouvidos e o tempo corria preguiçosamente.
Quis não pensar em nada, ser leve como uma pena. Esquecer o mundo lá fora. Não a bonita paisagem que ia absorvendo, mas o mundo, o mundo dos homens que erravam constantemente, que feriam regularmente, que maltratavam diariamente órgãos propulsores, como o seu, desde cedo consumidos pela luta da sobrevivência.
Não sabia ao certo que fazia ali, mas não lhe importava. Lugar para estar era o que sabia não ter. Não se sentia bem em sítio algum, mas naquele intervalo de tempo e espaço sentia o seu corpo abandonar a sua mente, tranquilizando-lhe o pensamento e as pulsações que doíam de cada vez que o coração apertado ressoava profundamente em mais um "baque" penoso.
Passou-lhe imensas vezes pela mente que essa dor de coração era sentida por muitos. Muitos mais daqueles que poderia imaginar e no entanto, sentia-se incrivelmente sozinha e fechada nas paredes do seu próprio ser.
Não saberia dizer quanto tempo se deixou ficar absorvida por aquele espaço de um encantamento hipnotisante e viciante. Talvez o bastante para já serem horas de um regresso a casa e de um novo encarar da vida, mas ela deixou-se ficar novamente.
 Fechando os olhos deixou-se levar pelo momento.
 Ali ao sol sentiu que o vazio que se havia plantado no seu corpo, na sua alma e no seu pensamento se havia sumido por ofuscação dos raios solares.
Do vazio passou para o cheio e sentiu-se completa.
Não aquela plenitude de felicidade e alegria. Apenas completa, como que se ainda não lhe faltasse nenhum membro precioso.
Apreciou os escassos minutos que lhe restavam, e sentiu o tempo passar.
Sairia dali quando o coração lhe mandasse. Quando este tivesse chorado todas as lágrimas e deitado fora todas as mágoas.
Por agora, apenas deixar-se-ia estar.

SR

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Noite com as melhores

Hoje, a noite vai ser de ramboia com as melhores amigas que poderia ter.
E porque não sorrir quando se tem o essencial?
Nem tudo é perfeito, mas eu aceito o imperfeito como ele me é dado.
É a isso que se chama viver.


SR

sábado, 18 de dezembro de 2010

Pena

Sinceramente o que sinto é pena.
Pena daqueles que enganam os outros e se deixam enganar a si próprios.
Pena dos que se escondem atrás do superficial e que sem darem por tal, apenas encobrem mais uma oca mentalidade e um coração vazio.
Tenho mesmo pena.
Tenho pena de conhecer pessoas assim.

SR

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Quando o mar não o leva de uma só vez, leva o vento grão a grão.

Estava feliz, caramba. Era feliz com aquilo que tinha. Porque fui à procura de mais? Aliás, porque esfregaram esse mais no meu nariz?
Não queria. Não queria sofrer outra vez. Passar pelo mesmo. Sempre pelo mesmo.
A ilusão. O perfeito. O calor do momento. Depois as discussões. Seguidas das mentiras. Por fim toda a mágoa. Todas as lágrimas concentradas num sentimento.
Mas nem tudo se centra nos sentimentos mais intensos que possa sentir, mas sim na perda de mais uma amizade.
É sempre assim não é? Encontramos pessoas no meio de uma multidão, com quem nos identificamos, de quem passamos a gostar, pessoas que passam a ter um significado nas nossas vidas e de repente, sem sabermos como, deixam de ser simples amigos, para se tornarem em algo mais. Esquecemos a amizade que nos liga, passamos a denominar-lhe algo diferente.
Depois deste processo rápido e silencioso, vem o lento e doloroso.
Aparecem as lacunas que antes não víamos, cedem as falhas que antes ignorávamos, parte-se a ilusão que nós próprios criámos.
Somos seres iludidos da nossa própria cabeça.
Magoamo-nos não por culpa dos outros que cometem os erros, mas por nossa que um dia decidimos acreditar numa visão distorcida da realidade.
É verdade. Tenho imensa pena de hoje vos dizer que estou de veras triste e magoada, mas às vezes é mesmo assim, não podemos ir contra nós próprios.
Quero o meu sossego e a minha paz de espírito de novo, o resto, como dizia o outro "é feito de areia" e quando o mar não o leva de uma só vez, leva o vento grão a grão.

SR

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Confusão da mente, da alma, do corpo

Incerteza? Insegurança? Sabem o que é? Sabem como é o sentimento?
Confusão, da mente, da alma, do corpo.
Turbulência do mundo à nossa volta, o qual gira e gira e nos deixa sempre no mesmo sítio.
Sentimo-nos crianças, indefesas, sozinhas num canto.
Às vezes é mesmo assim, não é? Ninguém nos entende, ninguém nos lê o coração.
Por segundos precisamos esconder esse ponto de interrogação que se implanta no nosso espírito e carregá-lo com as forças que ainda nos restam.
Por vezes é penoso, penoso levantar pesos que se elevam ao nosso, que nos prendem ao fundo.
Custa tanto, que nos deixamos cair por momentos e nos deixamos sufocar pelo sopro do medo e do vazio.
Depois a pouco e pouco, vamos ganhando coragem e impondo limites a nós próprios. Tentamos erguer-nos, o que nem sempre é possível à primeira tentativa, mas tentamos e voltamos a tentar até conseguir.
Não somos de ferro. Não somos objectos desprovidos de inteligência ou de emoções. Não somos ser isolados. Somos humanos, e por isso choramos, sorrimos, caímos, levantamos. Vivemos.
Felizes? Nem sempre.
Infelizes? Mais vezes do que gostaríamos.
Completos? Por momentos talvez, para sempre é impossível.
Sozinhos? Não sozinhos, mas sempre em busca de algo mais.
Somos seres de necessidades constantes, de procura permanente.
Procuramos a perfeição e esta nem existe. Humanos tolos! É pura invenção da nossa cabeça por não atingirmos um estereótipo magnânimo.
Mas somos crentes, não somos? Crentes na ilusão. Vivemos por ela e para ela. Mas vivemos.
Então vivam, seus indivíduos fascinados. Vivam! Mas vivam com vontade, que o resto é pura tolice.


SR

sábado, 4 de dezembro de 2010

Factos

Nem tudo o que é dito é sentido. E nem tudo o que é sentido é expressado.

SR